Letras UFT Araguaina
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Letras UFT Araguaina

Fórum destinado a você docente ou discente de Letras do Campus de Araguaína. Aqui é o lugar certo para debates, dúvidas, divulgação de eventos ou qualquer coisa relevante e muito mais...
 
InícioInício  Últimas imagensÚltimas imagens  ProcurarProcurar  RegistarRegistar  EntrarEntrar  

 

 GRÁMATICA NORMATIVA X LINGUÍSTICA: Entre o erro e a hipótese.

Ir para baixo 
AutorMensagem
JOSÉ AMILSON
Figurante



Mensagens : 1
Data de inscrição : 19/08/2008

GRÁMATICA NORMATIVA X LINGUÍSTICA: Entre o erro e a hipótese. Empty
MensagemAssunto: GRÁMATICA NORMATIVA X LINGUÍSTICA: Entre o erro e a hipótese.   GRÁMATICA NORMATIVA X LINGUÍSTICA: Entre o erro e a hipótese. Icon_minipostedTer Ago 19, 2008 2:13 pm

GRAMÁTICA NORMATIVA X LINGUÍSTICA:

Entre o erro e a hipótese.


O falar e o escrever bem são, inegavelmente, práticas advindas somente com o uso sistemático das regras gramaticais. O ato de se comunicar bem, portanto, é precedido pela assimilação das normas do português culto. A partir desse entendimento é que se justifica o ensino da gramática normativa. A Lingüística surge em oposição a essa compreensão estrábica. Para os lingüistas, a língua está além das normas. ORLANDI (1990, p.13), ressalta que [...] “ a mudança das línguas não dependem da vontade dos homens, mas segue uma necessidade da própria língua, e tem uma regularidade, isto é, não se faz de qualquer jeito. Por isso, desconsideram a norma padrão como ferramenta preponderante na comunicação oral e escrita.

A Gramática Normativa institui as diretivas acolhidas como essenciais para um melhor uso da língua escrita e falada, tendo como referência os grandes escritores. A mesma só admite uma forma enquanto correta, sem margens para uma outra alternativa. Não considera o fato de que uma forma adequada a um contexto não o é a um outro. Não vislumbra um espaço onde o coloquial e o formal se harmonizem. Não permite uma elasticidade entre o que se fala e o que se escreve. O que confronta as normas é erro, o que não está prescrito é erro, o que contraria os parâmetros cultos é erro. PETTER (2005, p. 21), diante dessa imposição, assinala:

A abordagem descritiva assumida pela Lingüística entende que as variedades não padrão do português, por exemplo, caracterizam-se por um conjunto de regras gramaticais que simplesmente diferem daquelas do português padrão. O termo “gramatical” é usado aqui com um valor descritivo: a gramática de uma língua ou de um dialeto é a descrição das regularidades que sustentam a sua estrutura. [...j. A Lingüística, portanto, como qualquer ciência, descreve seu objeto como ele é, não especula nem faz afirmações sobre como a língua deveria ser.

Compreende-se que, enquanto a Gramática Normativa tenta submeter a língua a um conjunto de normas, a Lingüística tem a própria língua — que se sobrepõe às regras — como objeto de sua reflexão. Acrescente-se que no âmbito dessa reflexão, a escrita é apenas um momento, uma variante, um desdobramento da língua. Historicamente, sabe-se que, tanto na organização quanto no uso social, fala e escrita se concebem de maneiras diferentes.

O português padrão, apresenta-se como o elemento propulsor da instrução que, a partir do aprimoramento cultural, propicia ao individuo uma comunicação clara e precisa. Menosprezando os diferentes usos da língua, as particularidades, a norma culta tem a pretensão de ensinar a Língua Portuguesa ao povo que a utiliza em todas as suas variedades. “De fato a Gramática Tradicional estabelece regras de um predeterminado modelo ou padrão de língua, para aqueles que já dominam outras variantes dessa língua e também algumas regras daquela variante que é padrão”. (SILVA, 2002, p. 12).

A norma culta tem sido utilizada pela elite como instrumento de dominação, como uma das vigas que sustentam sua ideologia. Esse instrumento coíbe as vozes de todo um outro segmento social, silencia as outras manifestações da palavra. Revestindo assim a linguagem da classe dominante, o português formal não apenas exclui a maioria da população, mas também atrela — deste o início do processo de alfabetização — a ascensão social ao domínio das regras do português culto. Marcos Bagno (2007, p.69), desmistificando tal assertiva, esclarece que se isso fosse verdade, os professores de português — que supostamente dominam a norma culta — estariam privilegiados nas esferas social, econômica e política.

De um lado, a Gramática Normativa, diante dos diferentes níveis da fala — os quais possuem seus próprios padrões, suas próprias normas — , impõe-se como o referencial, o ponto de convergência para todos eles. Por outro lado, a Linguística classifica suas normas gramaticais como inadequadas aos eventos lingüísticos, ausentes de uma consistência lógica. A norma culta é definida, em síntese, como um a abordagem estática, limitada, equivocada. No meio dessa discussão, o professor de Língua Portuguesa encontra-se desnorteado. A teoria cria teorias, mas a prática docente ainda é a mesma diante das transformações da linguagem.

A Gramática Normativa é a lei que regulamenta o que é certo ou errado no uso da língua portuguesa. Como toda lei, a norma culta precisa ser reformulada, adaptada às transformações que ocorrem na língua materna. A Linguística apresenta-se como a ciência capaz de promover diretrizes para o ensino de um português coerente, significativo diante das alterações da linguagem.

O problema é que a Linguística ainda é o discurso do português para todos, o português democrático, aquele dos mestres, dos doutores, dos criadores de teorias. Infelizmente, a realidade não é democrática, não é de todos, não é restrita às discussões acadêmicas. Ela é, no âmbito do conhecimento lingüístico, fria, impessoal, normativa. As entrevistas de emprego, os concursos públicos, os vestibulares, enfim, o espaço formal, em sua diversidade, mostra-se impermeável às reflexões sobre a língua. Muitos profissionais da língua portuguesa, entretanto, insistem em ignorar tal verdade, atribuem à gramatica normativa o papel de vilã no processo de ensino-aprendizagem e, desprovidos de ferramentas precisas, mediatizam um conhecimento confuso.

A Linguística precisa deixar seu castelo de reflexões, cruzar os portões das teorias, libertar a plebe a qual se propôs defender. O reino da educação já dispõe de sábios em excesso; precisamos de guerreiros.


REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz.49 cd. São Paulo: Loyola, 2007.
ORLANDI, Eni Pulcineili. O que é Lingüística. 4 cd. São Paulo:Brasiliense, 1990.
PETTER, Margarida. Linguagem, Língua, Linguística. In: FIORIN, José Luiz(org.).Introdução à Linguística.4ed. São Paulo: Contexto, 2005.
SILVA, Rosa Virgínia Matos e. Tradição gramatical e gramática tradicional. São Paulo:contexto, 2002.

Texto apresentado à Disciplina Lingüística Geral , ministrada pela Prof. Luíza Helena.
José Amilson R. Vieira
2º Período de Letras
UFT
Ir para o topo Ir para baixo
 
GRÁMATICA NORMATIVA X LINGUÍSTICA: Entre o erro e a hipótese.
Ir para o topo 
Página 1 de 1

Permissões neste sub-fórumNão podes responder a tópicos
Letras UFT Araguaina :: Biblioteca :: Discussão-
Ir para: