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 Ingênuas heresias introdutórias

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Data de inscrição : 22/06/2008

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MensagemAssunto: Ingênuas heresias introdutórias   Ingênuas heresias introdutórias Icon_minipostedDom Jun 22, 2008 9:20 pm

PEQUENO ENSAIO SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE GRAMÁTICA NORMATIVA E LINGUÍSTICA

(Texto originalmente escrito para um trabalho de Linguística Geral I, ministrado pela Prof. Luíza Brisa)


Achei interessante o termo “ensaio” designado pela professora para o desenvolvimento desta atividade. É exatamente desta maneira que me sinto apto a referir-me sobre o assunto em questão. Mesmo a intenção sendo dar uma liberdade maior no delinear retórico, vejo-me bastante a vontade também para dizer que a professora pode vir a argumentar que aconteceu um “excesso de ensaio” neste trabalho. Mas esses excessos ou faltas podem ser reparados com o tempo, ou não, como diria Caetano Veloso.

Confesso que estes primeiros contatos com a Lingüística estimulam novos pensares sobre o uso e tratamento da língua. Mas esta transição ocorre em “slow motion” por limitações históricas de ensino e aprendizado e de intimidade com todo o processo que envolve esta questão. Ou seja, me sinto a margem, como a maioria da população brasileira está, mesmo que não admita, de toda a amplitude da esfera sociológica, educacional e até filosófica do tema, se for para tratar com uma visão mais apurada e crítica. E este sentimento talvez já seja um sentimento de auto-preconceito enraizado em minha educação, não? Mais a frente, tentaremos conectar este sentimento a uma conclusão.

A primeira grande diferença destas disciplinas de perspectivas tão distintas, como faço questão de observar, está na disparidade de popularidade entre as duas matérias. Sem nenhuma vergonha e não há razão para tal, admito que o meu primeiro contato com o conceito ou definição de lingüística, aconteceu neste meu ingresso ao curso de letras, nesta universidade. Seria eu um ser de outro planeta? Ou mesmo sendo um mero terráqueo, eu seria um desinformado por completo ao ponto de nunca ter ouvido falar de forma mais concreta sobre esta corrente, ciência, pensamento, escola, etc... Como posso defini-la mesmo? De que ângulo? Ao fazer uma rápida apuração com meus colegas calouros, percebo aliviado que não sou nenhum alienígena. Sem nenhuma exceção, todos estavam obtendo o primeiro ou os primeiros contatos com esta disciplina também na faculdade. Aliás, pra ser sincero, quase 100% dos meus colegas se depararam com esta pergunta “o que é lingüística?” exatamente agora no primeiro período de letras.

A Gramática já é um conceito estabelecido em nossa sociedade. De forma bem diferente da Lingüística, ela está presente na sala de aula das crianças do ensino fundamental, tem forte presença nas mídias de comunicação, e sem dúvida, está cravada na consciência coletiva dos cidadãos como sendo a ferramenta eficaz no tratamento da língua.

Marcos Bagno destila um pouco de seu veneno e repulsa pela Gramática Normativa em seu Livro Preconceito Lingüístico – o que é, como se faz, com a seguinte frase de efeito: “Uma Religião mais velha que o Cristianismo (p. 147)”. Analisando de uma forma igualmente irônica, seria querer demais que uma ciência de pouco mais de cem anos e que provavelmente também pretende se tornar uma “religião”, queira medir forças em tão pouco tempo, com outra que possui milênios nas costas. Digamos que isso deva demorar um pouco mais para se tornar viável.

A Lingüística parece possuir um eco muito maior para um público mais específico, mais erudito, embora com uma visão mais depurada e atualizada das novas realidades que interagem diretamente com o usuário de todas as camadas da língua. Mas o fato da Lingüística já ostentar grande participação nos cursos de letras nas universidades, já é um sinal que pode apontar para um novo caminho mais democrático da informação, da disseminação do que venha ser Lingüística para os “usuários comuns”, mas com a mesma propriedade e legitimidade da língua.

Eni Orlandi logo na abertura de seu livro O que é Lingüística dispara um pensamento óbvio, porém desconcertante, abarrotado de veracidade, taxando que “O homem procura dominar o mundo em que vive. Uma forma de ele ter esse domínio é o conhecimento. Esse é um dos motivos pelos quais ele procurar explicar tudo o que existe. A linguagem é uma dessas coisas” (p.7).
Entre tantos saberes, ideologias e perspectivas, mesmo que de forma implícita, as relações de disputa de poder são manifestações presentes em muitas instâncias de produção de conhecimento. Aliás, o “tiroteio” que existe hoje entre Lingüistas e Gramáticos seguidores da norma culta, é um mero exemplo disso.

A gramática normativa possui uma “doutrina” conservadora e impositiva, e isso é o que parece mais destoar das características do que venha a ser uma ciência condizente com os tempos modernos, já que teoricamente poderia ser um campo que perseguisse uma evolução, sempre atenta às necessidades e transformações sociais. Existe aí uma prescrição, um posicionamento, um conjunto de regras para o uso da língua, principalmente na composição escrita. Além disso, tem esse perfil de se preocupar e rotular efusivamente o que está errado, desconsiderando a comunicabilidade entre os locutores e os parâmetros sócio-econômicos que fazem parte do perfil do usuário desta língua.

Já para a lingüística, interessa toda essa gama de possibilidades, falares, sotaques, escritas, “erros”. Existe sim a prerrogativa de normalizar a comunicação conforme a necessidade do momento, mas não tratar todos os alunos como futuros professores de português. O cuidado com a leitura, o entendimento de conteúdos e os exercícios de produção são ferramentas chaves para um bom usuário da língua. Aliás, utilizei o termo “bom”, mas para a lingüística não há um usuário “ruim”. O seu falar, a sua escrita, é uma expressão legítima de sua propriedade nativa.

Entre contradições e solavancos, inicia-se um pré-entendimento destas questões neste micro-ensaio. Cabe fazer uma ressalva positiva para o olhar social e prático que a lingüística faz, tentando descontruir preconceitos e auto-preconceitos. Isso no mínimo já possui uma prerrogativa mais humana, mais aconchegante. Mas será que Isso ainda vale no Mundo de hoje? No fritar dos ovos, não somos movidos por interesses?

Ufffa!!!


Marcello Martins
Aluno do 1º Período de Letras
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