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 Redação premiada na UNESCO.

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rodrigo.rudi
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Data de inscrição : 17/06/2008
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MensagemAssunto: Redação premiada na UNESCO.   Redação premiada na UNESCO. Icon_minipostedQui Jun 26, 2008 11:31 pm

COMO VENCER A POBREZA EA DESIGUALDADE.
Com a orientação da Professora Maria do Carmo Bastos e Ana Lúcia de Andrade Marques (UBM)

Querer definir, certamente é uma forma de aprisionar. Definir um critério, uma senha ou um jeito mágico de vencer a pobreza e a desigualdade já é função de uma boa parte que nos representa no poder. Mas, que de poder, não entende nada.
Lá em casa, desde cedo, era preciso trabalhar. Meu pai aprendera a encorajar-nos e colocava nisso o imperativo ético para a sua paternidade. Naquele tempo, o meu coração sabia ser pobre. Era sem reclamar, porque no universo da carência a criatividade exerce o seu papel. O material escolar que eu trazia perto do peito, como um filho, embora simples e com apenas uma caixa de lápis de cor limitada em seis cores, comprada a tanto custo, era, para o meu coração, a caixa com vinte e quatro, composta por variadas cores, exposta na vitrine de uma papelaria próxima a minha casa.
Sempre que podia, observava minuciosamente seus detalhes, de modo que, ao chegar em casa, eu pudesse ver as cores que faltavam na minha pequena caixa, conquistada depois de tanto choro e insistência. O que faltava nela e estava naquele universo de cores sem fim, na vitrine da papelaria, a minha imaginação completava. Isso durou muito tempo. Muitas vezes, eu parava diante dela e tinha vontade de tocá-la, pegá-la e assim colorir um pouco mais a minha vida ancorada com traços cinzas e nebulosos. Colocava o dedinho no balcão e aí me recordava de que era pobre e que aqueles lápis possuíam cores demais para pintarem apenas um cômodo, um pedaço de terra do quintal que meus pés tocavam ou a mesa remendada que eu apoiava para fazer a lição. O máximo que poderia fazer era sonhar com eles, com suas cores, seus rabiscos e sua silenciosa forma de despertar vida em mim. Nada mais que isso. Aquela pequena caixa era o lugar onde a minha alma de criança achava repouso.
Certo dia, cheguei diante da loja e ela não estava mais lá. Perguntei por ela. “Foi vendida”. Não tive dúvidas, o meu coração sofreu. Aí me recordei da frase: “Ser pobre é triste demais”. Nunca contei para ninguém que aquela caixa com tantos lápis e com tantas cores era o objeto do meu desejo. Era um desejo silencioso. Eu bem sabia que meus pais não poderiam comprá-la, e que pedi-la seria uma forma de causar-lhes sofrimentos. Esse é um tipo de amor que o tempo não apaga. Profundamente platônico, sem toque, mas absolutamente verdadeiro, porque tudo o que o coração deseja tende a eternizar-se em nós. Um grande caso de amor que o meu coração de pobre pôde viver.
Neste enredo, não prevalece a lógica que separa ricos e pobres, loja e meninos sonhadores. A pobreza maior não é fruto da restrição material, mas sim da restrição à capacidade de sonhar. Acredito que a razão positivista, que sempre se esmera em definir de maneira clara toda e qualquer realidade, não deve suportar as crianças, nem a criatividade delas.
Entendo que para vencer a pobreza é preciso antes de tudo, tirar os arames farpados que existem dentro de nós, olhando para o horizonte e enxergando as infinitas cores que tecem a coragem, a determinação e a força para vencer. Vencendo a pobreza, a partir das precariedades que a vida humana nos apresenta, pisaremos a serpente da desigualdade e ecoaremos em uma só voz o grito da igualdade. Não é com esmolas que venceremos a pobreza e a desigualdade social. Não é com explicações que saciaremos a fome da pátria e nem da nação. É com a esperança inquieta, que não pára em si, mas que avança, que grita a independência e a opção pela vida, não de cima de um cavalo como a tantos anos no marco de nossa história, mas da periferia, do subúrbio e da terceira margem que a sociedade insiste em não querer enxergar.

Rodrigo Rudi




* Texto premiado entre os 20 finalistas de quase 42.000 candidatos do Concurso de Redação da UNESCO/FOLHA DIRIGIDA E ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - RJ. Publicado no livro entitulado: "Como vencer a pobreza e a desigualdade."
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