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 Por que escrever?

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Luiza Helena, a lingüista
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MensagemAssunto: Por que escrever?   Por que escrever? Icon_minipostedQua Jun 11, 2008 11:35 pm

POR QUE ESCREVER?

Uma vez, em visita a uma galeria de Arte na abertura de uma exposição, depois de apreciarmos os trabalhos, uma acadêmica perguntou à artista então presente: “O que você queria dizer com essas pinturas?” A artista respondeu: “Eu não queria dizer. Se fosse pra dizer eu teria dito, não pintado”.
A resposta aparentemente rude e frustrante para a aluna é provocadora no sentido de fazer pensar sobre a linguagem artística. Há coisas que são expressas em luz, tinta, pincelada, arranjos de cor e forma. Há outras que precisam de palavras, uma não necessariamente sendo capaz de traduzir a outra. O poeta Mário Quintana aborda em um de seus textos, essa multiplicidade de linguagens e o desafio inerente à expressão verbal:

“Bem-aventurados os pintores escorrendo luz
Que se expressam em verde
Azul
Ocre
Cinza
Zarcão!
Bem-aventurados os músicos...
E os bailarinos
E os mímicos
E os matemáticos...
Cada qual na sua expressão!

Só o poeta é que tem de lidar com a ingrata linguagem alheia...
A impura linguagem dos homens!"

A linguagem “alheia” e “impura” pode ser traduzida pela ciência lingüística de Saussure como código, e, como tal, pertencente a uma coletividade. O sujeito falante não cria o código, dele, contudo, se apropriando para significar e significar-se. Tarefa ingrata e árdua, como diria Drummond, para quem as palavras são muitas para um homem pouco. Dizer é dizer-se, às vezes trair-se. Brincar.
Em seu livro de memórias, “Viver para contar”, o prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez fala da condição de escritor. Tentado pelos pais, que queriam vê-lo estudando Direito, o autor mantém sua opção em nome de uma certeza: o sujeito que tem vocação é aquele que sabe que não pode viver sem escrever. Se for possível sobreviver à urgência da escrita, então o sujeito não é escritor de verdade, pode seguir outros rumos em paz. Escrever é, para o romancista colombiano, sinônimo de uma “vocação arrasadora”, “a única que tinha capacidade para desafiar o amor”, “à qual se consagra uma vida inteira sem esperar nada em troca” (2005, p. 33).
Não sei se me encontro na condição apresentada por García Márquez, mas, me acorrem, nesse momento, versos de Drummond, no poema “Mundo Grande”, que talvez traduzissem a minha condição diante da escrita:

“Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos”


Crônica publicada no jornal O Norte, de Araguaína (TO), em 2007
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