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 Sobre os povos indígenas

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Luiza Helena, a lingüista
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MensagemAssunto: Sobre os povos indígenas   Sobre os povos indígenas Icon_minipostedQua Jun 11, 2008 11:33 pm

SOBRE POVOS INDÍGENAS

Luiza Helena Oliveira da Silva

Uma das poucas cenas que acompanhei pela TV relativas à Copa do Mundo, de 2006, e que me marcou sensivelmente diz respeito a uma imagem envolvendo torcedores indígenas. Diante de uma TV, a princípio instalada numa aldeia, esses índios acompanhavam animados os jogos da seleção brasileira, cantando, comovidos, o hino nacional. Eram, retomando a discussão da crônica anterior, brasileiros que nem eu, dividindo com o restante do país a “mesma emoção” diante dos gols e das vitórias.

Fico desde então pensando nesse adjetivo que qualifica o substantivo índio: brasileiro. Que implicações essa adjetivação traz para compreendermos a complexidade das relações interculturais quando o que temos à vista é o nosso diálogo com os índios? O que essa qualificação incide sobre suas formas de organização política e cultural? Pensar em índio é remeter a uma raça? A uma etnia? A uma nação? A outras nações que se submetem à nacionalidade brasileira? Guardam autonomia? Como se dá essa autonomia ou essa determinação? Como se dá a construção dessa identidade que permite que todos nos “emocionemos juntos”, cantando em uníssono o hino nacional?

Antes de avançar nessa discussão, retomo um outro fato. Uma colega de trabalho, recém chegada do Rio de Janeiro, ansiosa por denunciar sua filiação ao estado do Tocantins que a abrigara fraternalmente, filiou-se no Orkut a uma comunidade tocantinense. O nome da comunidade virtual intitulava-se “No Tocantins não tem só índio”. Desejosa de defender o estado diante de pretenso preconceito por pessoas de outras regiões, não atentara para um aspecto extremamente relevante: o nome da comunidade reitera um outro e grave preconceito. Se os membros desse grupo do Orkut queriam ressaltar aspectos positivos do Tocantins, fazendo frente a um olhar preconceituoso, fizeram-no atestando o caráter inferior de um outro grupo cultural, reforçando que o fato de haver apenas índios em um local realmente é comprometedor do ponto de vista de uma certa concepção de desenvolvimento, progresso, cultura.

Há certamente no Tocantins muito mais que índios, mas a presença das tribos no Estado o torna especial, oferecendo-nos uma grande oportunidade de aprendizado, de troca, de conhecimento sobre a diferença, sobre a relação com a alteridade, seus limites, tensões, confrontos.

Retomo agora o adjetivo brasileiro. A qualificação imposta pelo termo parece reduzir toda a multiplicidade de culturas indígenas a uma mesma unidade, silenciando as diferenças ao desprezá-las, submetendo-as a uma ordem maior implicada por essa nacionalidade que pretensamente compartilhamos. Muito pouco sabemos sobre as culturas das diferentes tribos e nações indígenas e ainda parece dominar a crença de que tudo o que se pode fazer é absorvê-los, educá-los, de novo catequizá-los e, assim, submetê-los.
Na Carta da Terra, apresentada como documento por uma comissão intertribal na conferência da ECO-92, declara-se a existência de limites a esse diálogo, ao chamarem atenção para “um código de vida jamais decifrado pelo homem branco”. Conforme expressa o documento, há limites para a decifração do Outro. Mas, como diria Lacan, o Outro é o que nos falta.

Crônica publicada no Jornal O Norte, de Araguaína (TO), em 2007.
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